Evento gratuito acontece de 03 a 05 de novembro e reúne nomes como Fábio Scarano, Luiz de Castro e João Rubens para discutir clima, inovação, ancestralidade, economia criativa e o futuro da cultura no Brasil.
A cultura deixa de ser espelho e passa a ser bússola. Essa é a provocação central do II Seminário de Economia da Cultura de Paracatu-MG, que traz como o tema “A Cultura e os Desafios do Século XXI”. Entre os dias 03 e 05 de novembro, o evento, que é totalmente gratuito, reunirá pesquisadores, artistas, gestores e produtores culturais de diferentes regiões do país para uma verdadeira travessia sobre o papel da cultura frente às transformações do tempo atual que se traduz em emergências climáticas, revolução digital, novas formas de trabalho e também mudanças nas relações humanas.
Entre os convidados estão nomes que representam diferentes dimensões da economia cultural brasileira como: Fábio Scarano, curador do Museu do Amanhã (RJ); Luiz de Castro, gestor do Mercado Novo (BH) e João Rubens, cofundador do HackTown (Santa Rita do Sapucaí).
Três trajetórias que se cruzam para mostrar como a cultura pode inspirar, transformar e gerar desenvolvimento sustentável em múltiplas escalas.
Cultura, ciência e esperança
Curador do Museu do Amanhã, que em dezembro celebrará 10 anos de fundação, duas vezes vencedor do Prêmio Jabuti, o cientista ambiental Fábio Scarano levará a Paracatu a palestra “Cultura, Ciência e Meio Ambiente como Estratégias de Civilização”. O objetivo é fazer o público refletir sobre o desafio de criar narrativas culturais capazes de gerar ação e esperança.
À frente da renovação da exposição principal do Museu do Amanhã, Scarano relata o desafio atual: o museu precisa se reinventar para o novo tempo. “Depois da pandemia, percebemos que o público busca experiências mais humanas, menos mediadas por telas. Queremos que as pessoas saiam não ansiosas, mas esperançosas e cientes da sua capacidade de transformar o futuro.”
Para Scarano, a arte, a espiritualidade e a ancestralidade são campos mais efetivos para fazer a as pessoas sentirem as mudanças do mundo. É um dos vieses que ele, juntamente com a equipe do Museu tem trabalhado. “A nossa intenção é fazer um diálogo entre as narrativas da ciência moderna e narrativas sobre as diferenças, ancestralidades brasileiras e afro-brasileiras, e amarrar isso com arte e elementos mais orgânicos, ainda que mantendo os aparatos tecnológicos de última geração que a gente usa para criar a sensação de emissividade e sentimentos das pessoas”.
Para ele, as pessoas estão cheias de informação. Elas são curadoras das suas próprias fontes. Em meio a uma chuva de informação, é necessário ser mais seletivo. “Eu penso que nesse tratamento de uma lógica científica e ambiental, o campo cultural, especialmente da arte, da espiritualidade ajuda as pessoas a sentirem o que a ciência vem falando e a partir desse sentimento, mudarmos o nosso comportamento.”
Por isso, ele chama atenção para a urgência de incluir arte e cultura nas grandes agendas planetárias: “Nos acordos climáticos e de biodiversidade, quase não há menções à cultura. É hora de o setor se mobilizar para influenciar o debate global e ajudar a reconstruir o sentido de civilização.”
Para o Seminário, Scarano vai levar exatamente essa discussão. Ele, que já participou de discussões climáticas na Organização as Nações Unidas, informa que vários aspectos ligados ao campo da cultura, hoje, não estão presentes nos grandes acordos globais, no acordo do clima, no acordo da biodiversidade e nos objetivos do desenvolvimento sustentável. “O setor como um todo precisa se mobilizar, porque como os atuais acordos caducam, em 2030, e ao longo dos próximos cinco anos estaremos discutindo o que vão ser as próximas metas planetárias, por mais que elas não sejam alcançadas, elas criam um estado de espírito, informam, dão visão e trazem financiamento, inclusive. Então, penso ser muito importante que ao longo dos próximos cinco anos o setor cultural do Brasil possa montar uma agenda e, quem sabe, influenciar o mundo como um todo e as próprias Nações Unidas para que deem boa visibilidade na forma de metas para o campo cultural como fator essencial pra fazer as mudanças de que o planeta precisa”.
Scarano participa pela segunda vez do Seminário e está feliz por retornar à Paracatu. “Eu tenho uma ligação com essa cidade. Na minha infância, quando morava em Brasília, passeava muito por lá com meus pais. E adorei chegar e ver uma cidade linda e pessoas animadas. Ver um setor cultural pujante num município histórico, como Paracatu, me deu muita alegria. Ainda mais vendo a transformação que se deu na cidade ao longo desses anos. Então estar novamente com vocês será uma imensa satisfação para beber um pouco mais dessa fonte, dessa sabedoria e cultura local que é muito rica”, comenta.
O Mercado Novo e a força da economia criativa
De Belo Horizonte-MG, o gestor e curador do Mercado Novo, Luiz de Castro compartilhará a experiência do empreendimento, espaço que abriga hoje mais de 300 empresas criativas e 1.200 unidades comerciais. O projeto, conduzido por ele e sua família, há três gerações, transformou um edifício inacabado dos anos 1960 em um dos maiores polos de economia criativa do Brasil, referência nacional em gastronomia independente, moda autoral e cultura urbana.
“Ser curador do Mercado Novo é ser um articulador e pesquisador constante. É unir tradição e inovação sem perder o DNA mineiro. Nosso desafio foi alinhar perfis diversos de empreendedores em torno de uma visão comum: entender a vocação do território e transformá-la em prosperidade coletiva.”
Luiz de Castro ressalta que a cultura é o eixo central desse desenvolvimento: “No Mercado Novo, cultura e economia são indissociáveis. A arte, o design, os ofícios e a gastronomia se retroalimentam. A produção cultural movimenta a economia e, ao mesmo tempo, preserva a identidade local.”
No seminário, ele participa do Encontro Temático “Mercado Novo e Feira dos Produtores”, além do painel “Territórios Criativos e Desafios Globais”, compartilhando aprendizados que inspiram cidades como Paracatu a desenvolver sua própria economia da cultura. “Levarei um relato real e honesto da trajetória do Mercado Novo, compartilhando aprendizados, erros e acertos ao longo do processo. Quero mostrar como desenhamos o projeto, como enfrentamos os desafios e de que forma acredito que ele pode inspirar outros territórios a desenvolverem sua própria economia da cultura”.
Luiz Castro vê esse modelo de rearranjo que une lojas criativas com gastronomia como uma tendência irreversível. “O mundo caminha para uma valorização da cultura local e da experiência autêntica. Em qualquer lugar, a comida e o produto regional ganham mais importância do que o fast food ou a padronização global. O futuro pertence a projetos cooperativos, dinâmicos e sustentáveis, que respeitam suas origens e constroem prosperidade coletiva”, defende.
HackTown: inovação à brasileira
De Santa Rita do Sapucaí, o mineiro João Rubens, cofundador do HackTown, trará a Paracatu o olhar sobre o futuro do trabalho e o impacto da inteligência artificial na cultura e na sociedade. O festival, inspirado no South by Southwest (SXSW), transformou uma pequena cidade do interior em um dos maiores polos de inovação e criatividade da América Latina, reunindo tecnologia, música, arte e empreendedorismo em mais de 16 espaços urbanos.
“O show do HackTown são as pessoas e as conexões que elas criam. A inovação acontece quando diferentes mundos se encontram - ciência, arte, gastronomia, música, tecnologia. É dessa mistura que nascem os melhores insights”, afirma Rubens.
Rubens participará de dois momentos marcantes: o Encontro Temático “HackTown e Movimento Inovatu” e a palestra “O Futuro Chegou. E Agora? Trabalho, Bem-Estar, Meio Ambiente e Cultura em Tempos de Inteligência Artificial.”
Para ele, a “inovação à brasileira” deve ser uma resposta local aos desafios globais: “O Brasil tem uma diversidade imensa. Inovação aqui não pode ser copiar modelos de fora, mas traduzir tendências para nossa realidade e celebrar o que temos de único. Em tempos de Inteligência Artificial, a autenticidade será o que não poderá ser copiado.”
O Seminário
Além de Fábio Scarano, João Rubens e Luiz de Castro, o II Seminário de Economia da Cultura de Paracatu receberá outros profissionais.
Entre os palestrantes confirmados estão Isaura Botelho, Pesquisadora da área de Políticas Culturais; Jorge Caldeira, escritor e historiador; Lala Deheinzelin, futurista reconhecida pela ONU. Também participam Marcos Alves (Sebrae), Nayara Azevedo (Sebrae/MG), Regina Amorim (Sebrae/PB), Luiz de Castro (Mercado Novo – BH), e Simone Catalan, consultora em sustentabilidade e economia circular.
Realizado pela GuiasTur Paracatu, em parceria com o Sebrae, a Kinross e instituições locais, o Seminário se consolida como um espaço de encontro entre tradição e inovação, entre saber técnico e popular.
Segundo a integrante da comissão de curadoria, Christiane Santos, em um tempo em que a Terra pulsa em alerta e o humano caminha entre algoritmos e tempestades, o II Seminário de Economia da Cultura de Paracatu propõe um respiro, um espaço de convergência entre a ancestralidade e a invenção, a oralidade e a inteligência artificial, a ciência, a comunidade e a economia. “O encontro é uma travessia de ideias, afetos e visões de mundo em torno de uma pergunta urgente: como a cultura pode responder aos desafios do século XXI?”, comenta.
Helen Ulhôa, que também faz parte da curadoria do evento, destaca que o seminário convoca mestres e pensadores, empreendedores e poetas, tecnólogos e educadores, para refletir sobre como os saberes populares, as artes e a economia criativa podem oferecer respostas concretas aos impasses contemporâneos. “De Paracatu para o mundo, o II Seminário de Economia da Cultura reafirma que é pela cultura que passará o futuro — um futuro mais ético, criativo e solidário”, finaliza.
Programação completa
DIA 1 – Segunda, 03/11 – Políticas públicas, economia e desenvolvimento territorial
08h00 – Plantação de mudas (Mutirão Ambiental)
17h30 – Famtour “Sabores e Histórias”
18h30 – Demonstração Técnica: Associação Axé Dendê
18h45 – Potências do Território: Cooperfrutas
19h00 – Palestra: Isaura Botelho – A Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento
19h30 – Painel 1 – Os Caminhos da Cultura e o Desenvolvimento
20h30 – Palestra: Fábio Scarano – Cultura, Ciência e Meio Ambiente como Estratégias de Civilização
21h00 – Debate e encerramento
DIA 2 – Terça, 04/11 – Conectando cultura, tecnologia e trabalho
08h00 – Encontro Temático: Mercado Novo e Feira dos Produtores – Luiz de Castro (BH)
10h00 – Oficina: Ímã Sustentável de Geladeira – Edneusa Nascimento
14h00 – Roda de Conversa “Academia e Mercado” – com João Rubens, Luiz de Castro e convidados
16h30 – Encontro Temático: HackTown e Movimento Inovatu – João Rubens e Josimar Viana Silva (IFTM)
18h30 – Demonstração Técnica: Caretagem de São Sebastião
18h45 – Potências do Território: EFAN – Escola Família Agrícola de Natalândia
19h00 – Palestra: João Rubens – O Futuro Chegou. E Agora? Trabalho, Bem-Estar, Meio Ambiente e Cultura em Tempos de Inteligência Artificial
19h30 – Painel 2 – Territórios Criativos e Desafios Globais (com Luiz de Castro e outros convidados)
20h30 – Palestra: Anna Carolina Fornero Aguiar – Urgência Climática e Futuro Regenerativo
21h00 – Debate e encerramento
DIA 3 – Quarta, 05/11 – Regeneração, sustentabilidade e reencantamento
09h00 – Oficina: Kokedamas – Cláudia Nascimento
13h30 – Encontro: Jogo da Colaboração – Simone Catalan
16h00 – Encontro: Cuidado Ativo e Genuíno – Kátia Lou (Grupontapé)
17h00 – Café com Jorge Caldeira – Academia de Letras do Noroeste de Minas
18h30 – Demonstração: Lyra Paracatuense
18h45 – Potências do Território: COPABASE – Cooperativismo e Sustentabilidade
19h00 – Palestra: Jorge Caldeira – A Regeneração como Projeto para o Brasil
19h45 – Painel 3 – Os Caminhos da Regeneração
20h30 – Palestra: Lala Deheinzelin – Entre o Colapso e o Encantamento: O Futuro Está em Nossas Mãos
21h30 – Encerramento

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